Festa do Viso

 

Agosto chega abrasado,
De Julho já nada resta,
O arraial está preparado,
Fogo no ar, e começa a festa.

Na capela impera a Senhora
Da Boa Fortuna invocada,
S.to António também lá mora,
Está, pois, bem acompanhada.

Crianças no correpio,
Algazarra em pleno monte,
Velhos suados p´lo estio,
Matam sedes na fresca fonte.

Bem fardada, em passo certo,
Vem a Banda a marchar,
Vai solene para o coreto,
Afinadinha vai tocar.

Compassada p´la batuta,
Sai uma marcha, de repelão,
No arraial já há fruta,
Uva, pêssego e bom melão.

O sobreiro é anfitrião,
De tronco erguido, que não tomba,
Nestes dias quentes, porque é Verão,
Acolhe o povo à sua sombra.

A tasca está à pinha,
De gente que quer petiscar,
Sai o churrasco, sai a sardinha,
E muito vinho p´ra regar…

Na hora da procissão,
Alinham-se já os andores,
Promessas e devoção,
Expressas em lindas flores.

Paramentos e alfaias,
Bandeiras e lamparinas,
As opas parecem saias,
E com elas os homens são meninas.

Balança o turíbulo certeiro,
Lançando fumo de incenso,
Abre-se a alma a tal cheiro,
Inebriante, doce, intenso.

Está enfeitado o adro,
De flores, beleza à vista,
Parece pintado o quadro,
Pelas mãos de fino artista.

Vai o padre a transpirar,
Sob o pálio protector,
A fanfarra a marchar
Ao toque da caixa e do tambor.

Os festeiros vão vaidosos,
Encarnados como as opas,
Cansados mas estremozos,
Cai-lhes o suor pelas estopas.

Meia noite, lágrimas de côr,
Iluminam o céu do Viso,
Parecem anjos do Senhor,
Subindo ao paraíso.

Terça-Feira chega lesta,
E com ela cai o pano,
É assim a nossa festa,
Tradição com muito ano.

 


Américo Almeida

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