O cão que é burro

O cão do meu vizinho
é burro que se farta!
Não! Não, é burro, é cão,
Mas como cão é burro.
Depois, esta triste sina, imagina,
A de um burro não ser cão,
Mas um cão ser burro.
Ladra, ladra, o ladrão,
Late, late, o latão,
P´rá estrada deserta
P´ró vazio da rua,
sem que responda
A assobio,
A homem ou mulher
Porque de lá,
horas a fio,
Nada se sonda,
Um pio sequer.
Mas, penso agora,
Por inda o ouvir lá fora;
Poderá estar a comunicar,
a ladrar, claro,
Mas não sozinho
A falar, com faro
Com outro cão
De outro vizinho.
Santa ignorância!...
É que me dizem que o cão
Ouve o que não ouvimos,
Sente o que não sentimos.
Ultra-som! É isso!
Não me esqueço disso,
mas mesmo assim, o burro do cão,
Do meu vizinho,
Ladra sozinho,
Late que se farta,
E por farto de o ouvir,
Nesse constante tão tão,
- É sina e é sino -
Vá pró raio que o parta
O cão, por assim latir.
Porque me atormenta,
O ouvido arrebenta
E já não tenho paciência.
Mesmo que a ciência
O explique,
O justifique.
Raios parta o cão!
- Digo-o em sussurro-
No seu constante ão ão,
Este cão não é cão,
Este cão é mesmo burro!


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